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Folleto de explicación sobre el Simposio

Erklärung (Deut.)

Comunicato finale (Ital.)

Final Declaration (Eng.)

Slotverklaring (Holandes)


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V SIMPÓSIO PARA UMA RELEITURA DO PENSAMENTO

DE SANTO AGOSTINHO

A PARTIR DA AMÉRICA LATINA:

O MUNDO POLÍTICO-ECONÔMICO

DECLARAÇÃO FINAL


Do dia 26 a 31 de janeiro de 1998, no Distrito Santa Rosa, próximo à cidade de Lima, no Peru, um grupo de Agostinianos de diversos países da América Latina reunimo-nos no V Simpósio para uma Releitura do Pensamento de Santo Agostinho a partir da América Latina.

Se no IV Simpósio, realizado em São Paulo, Brasil, em 1985, compartilhamos com Agostinho as angústias de um meio ambiente maltratado e deteriorado, hoje aprofundamos sobre a escandalosa realidade político-econômica, na qual uma brecha crescente separa multidões de irmãos que padecem a pobreza crítica e extrema de uma minoria que tem acumulado riquezas até extremos inaceitáveis. Penetramos até o fundo do sistema neoliberal, que abandonou a economia às leis do mercado, que exclui o ser humano ou o reduz a mero instrumento ao serviço do crescimento econômico.

Os pobres das bem-aventuranças, os privilegiados do Reino, de novo constituíram para nós, como para nosso pai Agostinho em seu tempo, um termômetro de nossa fé, uma interpelação a nosso modo de viver o compromisso evangélico e de consagrados, e um apelo a contemplar ativamente os valores do universo que nos rodeia; a visão das diversas expressões de pobreza e a humanidade ensangüentada constituíram, neste encontro, um sinal de alarme e de conversão pessoal e comunitária.

A. Identificamos e denunciamos alguns elementos desestruturadores da vida que são a base da cultura de morte:

Na ordem Econômica

Um mundo globalizado, onde impera o modelo neoliberal, que gera um crescimento econômico desumanizado, orientado em benefício dos países ricos, com a exclusão de toda participação ativa dos países pobres, ocasionando - nos países pobres - uma desordem em todos os níveis, como grandes movimentos migratórios internos, uma brecha crescente entre ricos e pobres e uma impagável dívida externa.

Um crescimento econômico com um desemprego estrutural em níveis muito altos, inclusive nos países subdesenvolvidos, onde a mão de obra é substituída por tecnologias de ponta que incrementam a produção e as utilidades.

Exclusão em diversos níveis: cultural, intelectual, racial, e de gênero; exclusão dos serviços de saúde, de proteção à vida e ao respeito dos direitos humanos, produto das desigualdades sociais e econômicas imperantes.

Na ordem Ético-Cultural

Condições de pobreza que produzem um caos e deterioração da qualidade de vida - desintegração do núcleo familiar, impossibilidade de uma educação básica, de uma atenção mínima aos serviços de saúde; falta de moradia digna e de vacinação; empobrecimento alarmante das imensas zonas rurais, nas quais o solo torna-se improdutivo devido à migração para as grandes cidades - cobrindo-as de violência delinquencial e de várias índoles, derivada das condições de aperto e opressão em que os pobres têm de sobreviver.

Perda dos princípios éticos e do sentido da vida e da verdade, do respeito aos direitos humanos; desprezo à liberdade dos povos, campanhas maciças de esterilização compulsiva, perversos métodos de chantagem e de ameaça; impunidade descarada frente àqueles que violaram os direitos humanos; corrupção que se estende como um câncer pelos tecidos da inteira sociedade; sque geram sociedades com orçamentos individualistas, narcisistas e de competição desleal.

Na ordem Política

Desproporção entre o investimento social e os orçamentos vultosos destinados à corrida armamentista, sustentada nos conflitos fronteiriços que oprimem a maioria de nossos povos.

A vigência de formas de governos ditatoriais de orientação populista que evitam toda organização e participação cidadã e adaptam as leis a seus próprios interesses.

B. Vislumbramos um horizonte de esperança onde podemos identificar alguns elementos positivos:

A tomada de consciência acerca da necessidade de uma nova ordem social, política e econômica, na qual se reconhece ao ser humano seu respectivo valor e lugar.

Surgem, apesar da miséria, organizações da sociedade civil que alçam a voz em favor da justiça, dos pobres, do meio ambiente, da vida, da defesa da mulher e que situam a dignidade do ser humano como princípio e fim de todo desenvolvimento, valorizando sua infinita capacidade criativa, recebida como dom da criação.

A multiplicidade dos espaços, a diversidade de identidades que cobrem a nossa geografia são um desafio à criatividade de quem ama e quer bem a seu próprio mundo; são um desafio ao seu esforço, à solidariedade e à reciprocidade. Os valores dos povos de nossa América Latina e Caribe vibram ainda, apesar das condições adversas: neles mantêm-se o calor humano, a solidariedade, a sensibilidade e o respeito pelos demais, a capacidade religiosa e a alegria da festa, não obstante as mil adversidades ao redor e os desastres da natureza, como os que, estes dias, assolaram nossos países em decorência do fenômeno "El Niño".

C. Através deste Simpósio, escutando a voz do Evangelho à luz de Santo Agostinho, aprendemos a valorizar alguns princípios éticos em contraste com a dura, porém esperançadora realidade, tendo a Cristo como centro e fundador da justiça, frente a qualquer tentativa de desumanização.

O princípio da "caritas socialis", o amor social, orienta a prioridade dos bens comuns sobre os bens individuais que nos fazem entender que os bens desta terra são de todos, fazendo-nos solidários com os excluídos da sociedade.

O princípio do "uti et frui": usar as coisas, deleitar-se com as pessoas. Quando invertem-se estes termos, tudo acaba como objeto de nossa ambição.

O princípio da "veritas": a transparência no exercício do poder, buscando o bem comum e não manipulando a opinião pública como base de uma autêntica vida democrática.

O princípio da capacidade de reconhecimento da culpa ou do erro quando falhamos. A aceitação humilde dos erros engrandece a pessoa e é sinal de saúde política num povo. Tal princípio não cede o passo à solidez de um sistema de justiça que não permite impunidade alguma.

A interioridade, como um chamado a uma atitude contemplativa diante de nossas realidades, que nos faz sentir a presença de Deus nelas, comprometendo-nos em sua mudança.

A tais valores e princípios, juntam-se outros, estreitamente relacionados: a paz como finalidade de toda sociedade, sustentada na justiça; a paciência ativa; a tolerância inesgotável; a solidariedade; o diálogo, como fonte de comunhão dos filhos de Deus; o respeito à diversidade e à defesa dosexcluídos.

D. Propomo-nos a:

Criar sistemas abertos e programas de conscientização, capacitação, superação, participação e autoestima, com vistas à criação de uma nova ordem política e, a partir de nossos centros educativos nos comprometemos a promover uma educação integral da pessoa.

Trabalhar os meios de comunicação como instrumentos de transmissão de valores éticos que promovam a dignidade da pessoa.

Apoiar e participar de forma ativa nas comissões existentes em nossa Ordem e associar-nos aos movimentos civis que estejam orientados para a promoção da justiça, paz e defesa dos direitos humanos fundamentais.

Promover e desenvolver a consciência crítica das pessoas de nossas sociedades, aproveitando todas as estruturas que temos como Agostinianos, fortalecendo nossas organizações pastorais, nosso trabalho como educadores, nossos meios de difusão e formas concretas e criativas de desenvolvimento alternativo baseado no bem-estar humano, na solidariedade e na distribuição eqüitativa dos bens.

Convidamos os nossos Irmãos da América Latina e Caribe para que nossas Comunidades aprendam a discernir os sinais do Reino em meio aos lugares onde se encontram, mediante uma reflexão ativa acerca do que quer de nós o Deus da Vida, na condição dos mais pobres, aubmersos na pobreza, a fim de ajudá-los a tomar consciência da imensa riqueza de que são possuidores, como filhos do Pai e povoadores dos espaços deste Continente, sem, no entanto, havê-las descoberto. As próprias Comunidades haverão de constituir-se em estruturas pedagógicas e participativas, a fim de gerar à sua volta uma nova cultura mais participativa, que permita olhar com esperança o novo milênio que se aproxima.